Capa: Argument irresistible… França, 1841 Série: Robert Macaire Periódico: Le Charivari, 16 de maio de 1841 Gravuras; litografias Litografia Folha: 23,65 x 19,84 cm Doação da Sra. Florence Victor da Coleção David e Florence Victor (M.91.82.139) Honoré Daumier (França, Marselha, 1808-1879) Domínio público Fonte: Wikimedia Commons.
Maurício Pinheiro
Ah, a era digital, esse maravilhoso playground onde as discussões intelectuais se assemelham mais a um desfile de insultos do que a um diálogo construtivo. Afinal, por que se dar ao trabalho de debater ideias quando se pode simplesmente atacar a pessoa que as apresenta? Estamos, sem dúvida, testemunhando uma invasão épica de ataques ad hominem – e uma batalha entre a superficialidade primária e a profundidade intelectual.
Encaremos os fatos de frente: a sociedade está se tornando cada vez mais primária. A profundidade está sendo trocada pela superficialidade, e a erudição está se afogando em um mar de memes, selfies e emojis. E a quem devemos culpar por esse naufrágio intelectual? Bem, seria muito fácil apontar o dedo para a tecnologia, mas vamos culpar a verdadeira raiz do problema: a quantidade alarmante de informação superficial e falsa que permeia as bolhas da web.
Quantos livros você já leu este ano? Pois é, a resposta provavelmente não é algo que se orgulhar. Por que se preocupar com a sabedoria acumulada ao longo dos séculos quando podemos passar horas rolando em feeds intermináveis de mídias sociais? Afinal, quem precisa de conhecimento quando se tem tik toks, influencers e coaches para preencher o vazio existencial?
O ditado “pessoas primárias falam de pessoas, pessoas inteligentes falam de fatos, e pessoas cultas falam de ideias” parece estar perdendo seu brilho. Afinal, poucos hoje em dia parecem interessados em discutir ideias quando podem simplesmente atacar aqueles que as propõem. E quando se trata de política, bem, é quase como se 90% do debate fosse pura e simplesmente ad hominem. Como dizia Marcus Tulius Cicero, “O tempora, o mores!”, as vezes não há como resistir a esse desabafo.
Estamos vivendo em uma era de regressão intelectual, onde a capacidade de raciocinar logicamente está sendo substituída pela habilidade de lançar insultos criativos. E por que se dar ao trabalho de entender os pontos de vista dos outros quando podemos simplesmente rotulá-los e descartá-los?
Talvez seja hora de reconhecermos que estamos nos tornando vítimas, ou até mesmo escravos, de nossos próprios dispositivos – literal e figurativamente. Neste contexto, não seria exagero afirmar que já estamos sendo controlados por centenas de IAs, mesmo que estejamos longe da AGI e da singularidade. É, pensando melhor, pode ser que a culpa seja mesmo da tecnologia… Enquanto gastamos preciosas horas em nossos smartphones, alimentando nossas mentes com trivialidades vazias, estamos inadvertidamente contribuindo para o declínio do debate intelectual e treinando essas IAs…
Mas, claro, por que se preocupar com tudo isso quando podemos simplesmente postar um meme engraçado sobre o assunto e dar por encerrado? Afinal, quem precisa de uma mente afiada quando se pode ter um feed de notícias repleto de bobagens? Ah, a doce ironia da era digital. Fui… Hemingway me aguarda no criado mudo, ou melhor, naquele móvel do lado direito da minha cama que mais se parece com uma caixa com abajour em cima.
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